terça-feira, 12 de abril de 2011

Resenha: Redes Sociais da Internet


O Livro da Pesquisadora e Jornalista Raquel Recuero traz uma abordagem sobre um movimento que se expande assustadoramente entre as pessoas de diversas faixas etárias, as Redes Sociais na Internet. Segundo a autora, este fenômeno está mudando profundamente as formas de organização, conversação e mobilização social através da comunicação mediada. Exemplos são os diversos acontecimentos, contemporâneo que são nutridos pelos interesses, informações e/ou especulações nos blogs, no Orkut, twitter e outros mensageiros instantâneos mediados pela internet, unindo interesses e unindo pessoas em uma relação que não se estabelece, apenas, na conexão entre computadores, mas sim na conexão entre pessoas, construindo assim uma rede social de interação.


Segundo Recuero, essas interligações denominadas Redes já vêm sendo pesquisada há muito tempo e explica que desde o século passado, a ciência apresentou a necessidade de compreender os fenômenos sociais dentro de uma totalidade, para isto ela expõe as idéias de Bertalanffy (1975) na Teoria Geral dos Sistemas, a superação do paradigma analítico cartesiano nos estudos Einstein e Heisenberg e a matemática não linear da teoria do meteorologista Lorenz. Ela sinaliza também a importância das ciências humanas como a biologia, a educação e até mesmo a comunicação para a compreensão dos conceitos de coletividade.

No livro, o sentido da palavra, Rede reporta a uma metáfora, inicialmente, utilizada pelo matemático Leonard Euler na Teoria dos Grafos, onde cada grafo representa um nó de ligação entre as arestas, constituindo uma conexão entre eles, dando idéia de uma rede de ligação. Segundo a autora, essa representação de rede é utilizada em diversos sistemas, assim como nas interações dos indivíduos e nas articulações construídas a partir dela. Dessa forma, a metáfora subsidia a compreensão sobre o sentido das relações construídas nas Redes Sociais na Internet e a sua repercussão nos processos sociais e informacionais da sociedade.

O livro é estruturado em duas partes: a primeira apresenta elementos básicos para a compreensão sobre as redes sociais na internet, e a segunda retrata os grupos sociais imersos nas redes sociais, com enfoque nos tipos de redes sociais, difusão de informação e estrutura de comunidade.

Na primeira parte é feita uma abordagem sobre a importância da interação dos indivíduos mediados pela internet e a possibilidade de compreender os aspectos sociais, culturais e informacionais embutidos nesta interação. Para isto, é definido o sentido de redes sociais que é compreendido como um conjunto de dois elementos: atores e conexões.

Os atores são definidos como todas as pessoas envolvidas nas redes analisadas, atuando como moldadores das estruturas sociais através da interação e da constituição de laços sociais. No entanto, a autora destaca que este sentido, nas redes sociais da internet é diferenciado, pois um ator não é ator social e sim uma representação disso, isto por que na individualidade é ocupado o espaço da coletividade. Assim, autores como Sibilia, Lemos, Döring entre outros os auxiliaram na discussão sobre identidade no ciberespaço.

Mesmo assim, vale ressaltar que o curioso, nesta interação, é a visibilidade na individualidade, em que o individuo pode assumir diversos papéis, representando múltiplas facetas de sua identidade como descreve Recuero.

Por conseguinte, as conexões são laços construídos nesta interação, as quais deixam informações que o livro descreve como rastros sociais que permitem aos pesquisadores a percepção das conjeturas sociais. Como forma de alicerçar esta discussão são trazidos os conceitos de Interação, Relação e Laços Sociais.

Neste caso, a interação é o elemento fundamental na conectividade que é representado pelo aspecto comunicacional. Este é subsidiado pelas relações que são as mantenedoras desse processo, as quais provocam a construção dos laços sociais que representa um elo mais estreito, se assim pode dizer de ligação.

Outro conceito que vale se ressaltar é do Capital, em que a autora perpassa por algumas vertentes para explicá-lo: o capital como virtude cívica; o capital como elemento fundamental para a constituição e o desenvolvimento da comunidade; e, a idéia de capital social exposta por alguns autores. No entanto, ela toma as idéias de Bordieu que afirma que o capital social seria mediação simbólica das interações construídas e negociadas pelos atores.

Por conseguinte, é afirmado que assim como os agrupamentos sociais são analisados pelas suas estruturas, as Redes Sociais da Internet possuem também topologias estruturais que são construídas através dos laços sociais estabelecidos pelos atores em sua relação nas Redes.

A importância da metáfora da rede perpassa por todo o livro, pois esse entendimento favorece a percepção da topografia como essencial pra compreender a ação dos grupos sociais. Nesta concepção, o memorando de Paul Baran toma um lugar de destaque, pois ele apresenta três tipos topográficos: a distribuída, a centralizada e a descentralizada, para a compreensão dos elementos das redes sociais.

Recuero chama atenção da importância dessas topografias para o estudo desses elementos, mas ressalta que elas são modelos fixos e que uma mesma estrutura pode apresentar aspectos semelhantes.

Como descrito, o estudo sobre as redes nasceram na teoria dos grafos em uma abordagem essencialmente matemática, que posteriormente migrou para a sociológica, contudo a teoria dedicava-se a perceber as relações estáticas das redes sociais, todavia o que autora propõe é a análise das propriedades dinâmicas nas redes sócias da internet: As redes igualitárias; Rede mundos pequenos; e, Rede sem escalas que são estruturas que fomentam as discussões e o entendimento sobre os diversos elementos das redes sociais.

Nesta discussão, o dinamismo é o elemento chave. Alguns autores explícitos no texto, afirmam que não há redes sociais sem mutação, elas se transformam a todo instante, se caracterizando como uma estrutura dinâmica que sofrem a influência dos processos interativos dos autores.

Neste ínterim, destaca a emergência como um dos aspectos do dinamismo, surgindo a partir dos movimentos coletivos, podendo até impactar as estruturas das redes sócias. Para melhor compreender essa relação autora sugere o entendimento dos agentes de Cooperação, Competição e Conflito.

A cooperação é o processo formador das estruturas sociais, pois ela é o agente organizador das sociedades. A competição é que fundamenta a luta, nela o sentido de cooperação está embutido, no entanto o conflito surge dos desgastes dessas relações, todavia é necessário ressaltar que esses elementos não são estanques, são fenômenos naturais e emergentes que afloram das relações vividas nestes ambientes.

Para exemplificar tais fenômenos, Recuero cita a formação de grupos na internet como relação cooperativa, pois a sua existência depende deste critério, e cita os inúmeros conflitos existentes no Orkut, que nutrem muitas comunidades com este tipo de relação. Já, a competição surge de forma sutil, mas demonstra-se presente no ciberespaço, através da popularidade das comunidades criadas nestes ambientes.

Além desses fenômenos, a ruptura e a agregação se destacam como aspectos dinâmicos, também, pois são mecanismos que favorecem o surgimento ou o fim de algumas comunidades. Desta forma, as mutações ocorridas revelam o dinamismo presentes neste ambiente que são derivadas da apropriação das ferramentas como mecanismo de construção de identidade.


Na segunda parte do livro discute sobre as implicações práticas do estudo das redes sociais da internet, onde o objetivo da autora é observar e compreender a metáfora da rede, estudando alguns objetos contidos nela.

Os tipos de redes sociais da internet são dois: redes emergentes e redes de filiação ou associação. A primeira são redes onde as conexões entre o nós surgem a partir das interações dos atores, e a segunda é constituída de dois tipos de nós: os atores e os grupos, sendo eles mantidos pela relação de pertinência.

Além dessa abordagem, é discutido também sobre os sites das redes sociais que são espaços, na internet, que permitem a socialização do sujeito com diversos ambientes. Neles é construído o perfil e são expostos comentários, se tornando um espaço de visibilidade, autoridade e popularidade.

Estes sites são categorias de softwares sociais, que seriam software com aplicação direta para a comunicação mediada pelo computador, como define Recuero. Contudo, ainda que sejam espaços de interação, eles por si só não se constitui como redes sociais, pois as redes só configuram através das relações dos autores.

Nesses sites surgem as comunidades nas redes sociais da internet que são descritas, pela autora, como espaço de interação social mediada pelo computador, o qual favorece, em muitos casos, a uma intimidade maior entre os autores.

Nesta abordagem destaca-se a idéia de Maffesoli que explica que as comunidades virtuais eletrônica são agregações em torno de interesses comuns, independentes das fronteiras ou de marcações territoriais fixas. Todavia, a autora trás no texto outras definições de comunidades virtuais e afirma que o importante nesse estudo é a repercussão dessas relações na vida concreta do indivíduo e que essas redes são mecanismos para que isso aconteça.

Nas comunidades há presença de sub comunidade, essas são configuradas através de nós, os quais quanto maior a densidade maior as conexões, isto acontece por conta dos clusters que são as emissões e recepções de comentários mediados pelos laços: fracos ou fortes.

Recuero, como pesquisadora e um nome em destaque nessa temática, traz, neste livro, as repercussões do movimento das redes sociais na internet e como estas vêm modificando as sociabilidades das pessoas. O texto se apresenta através de uma linguagem leve, se aproximando do leitor com sutileza, além de apresentar uma base teórica bastante rebuscada. Sendo ele indicado a antropólogos, sociólogos, educadores e todas as pessoas interessadas em compreender os processos, as relações construídas na internet e as suas repercussões sociais.

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